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quinta-feira, 26 de março de 2009

As irresistíveis aliterações!




A aula do 9º A foi , hoje, dedicada ao fantástico episódio da Batalha de Aljubarrota, o qual surge integrado no canto IV d' OS LUSÍADAS. As literações são aqui poderosas, sugerindo o combate travado entre as duas partes em conflito.




(...)
Já pelo espesso ar os estridentes
Farpões, setas e vários tiros voam;
Debaxo dos pés duros dos ardentes
Cavalos treme a terra, os vales soam.
Espedaçam-se as lanças, e as frequentes
Quedas co as duras armas tudo atroam.
Recrecem os immigos sobre a pouca
Gente do fero Nuno, que os apouca.

(...)




A propósito....




Aliteração é uma figura de estilo que consiste em repetir fonemas num verso ou numa frase, especialmente as sílabas tónicas. A aliteração é largamente utilizada em poesia mas também pode ser empregue em prosa, especialmente em frases curtas. Consiste na repetição do mesmo fonema consonântico, de forma a obter um efeito expressivo.
Quando usada sabiamente, a aliteração ajuda a criar uma musicalidade que valoriza o texto literário. Mas não se trata de simples sonoridades destituídas de conteúdo. Geralmente, a aliteração sublinha determinados valores expressivos, nem sempre facilmente identificáveis





As estrofes de Pessoa que a seguir apresento são um exemplo magnífico do uso expressivo da aliteração.
Neste caso, a acumulação de aliterações cria um efeito musical tão intenso que nos leva a colocar num plano secundário o conteúdo.






Deliciem-se com a musicalidade criada pela sucessão de aliterações, onde o significante sobrepõe-se ao significado...



Em Horas inda Louras, Lindas



Em horas inda louras, lindas
Clorindas e Belindas, brandas,
Brincam no tempo das berlindas,
As vindas vendo das varandas,
De onde ouvem vir a rir as vindas
Fitam a fio as frias bandas.



Mas em torno à tarde se entorna
A atordoar o ar que arde
Que a eterna tarde já não torna!
E o tom de atoarda todo o alarde
Do adornado ardor transtorna
No ar de torpor da tarda tarde.



E há nevoentos desencantos
Dos encantos dos pensamentos
Nos santos lentos dos recantos
Dos bentos cantos dos conventos....
Prantos de intentos, lentos, tantos
Que encantam os atentos ventos.



Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"