OUVIR FALAR LER ESCREVER

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sexta-feira, 15 de maio de 2009

SER POETA


Tal como tinha sugerido, a aula do 7º A começou da melhor maneira. Pois é, alguns alunos já me tinha segredeado nos corredores que sabiam o nome do pintor mistério. Foi com o quadro " O Poeta", de CHAGALL, que demos início à aula. Os alunos observaram atentamente a imagem e relacionaram-na com o seu título.

Seguiu-se a leitura de poemas fantásticos que, de autores tão diferentes, têm em comum a tentativa de definir o poeta. Em simultâneo, ouvimos o poema "perdidamente....", cantado por Luís Represas.

Estava criado o ambiente para que os proprios alunos reflectissem sobre a sua definição de poeta...








Ser poeta



Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!


É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!


É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!


E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente


Florbela Espanca





AUTOPSICOGRAFIA


O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.


Fernando Pessoa




FICHA


Poeta, sim, poeta...
É o meu nome.
Um nome de baptismo
Sem padrinhos...
O nome do meu próprio nascimento...
O nome que ouvi sempre nos caminhos
Por onde me levava o sofrimento...


Poeta, sem mais nada.
Sem nenhum apelido.
Um nome temerário,
Que enfrenta, solitário,
A solidão.
Uma estranha mistura
De praga e de gemido à mesma altura.
O eco de uma surda vibração.


Poeta, como santo, ou assassino, ou rei.
Condição,Profissão,
Identidade,
Numa palavra só, velha e sagrada,
Pela mão do destino, sem piedade,
Na minha própria carne tatuada.


Miguel Torga