OUVIR FALAR LER ESCREVER

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quinta-feira, 30 de abril de 2009

Uma gaivota voava voava...

Ao mergulhar nas minhas recordações de infância vem-me à memória uma canção que em Abril de 1974 foi uma das melodias marcantes da revolução.
Ao entrar para a escola já no período pós 25 de Abril era certo que nos bancos de escola se faziam ecoar estes " gritos" de Liberdade outrora reprimidos.
A professora, uma jovem irreverente, meiga e inovadora para a época, ensinava-nos as primeiras letras ao mesmo tempo que estas tinham histórias: O " i" precisava de um chapéu porque andava sempre constipado; O " u " tinha um sorriso alegre.... e assim se contruiam sílabas e se formavam pequenas frases...

Aulas deliciosas onde se aliava a aprendizagem à criatividade, à alegria e se respirava Liberdade.

Todos, em uníssono, assim cantávamos...

"Uma gaivota voava, voava, asas de vento, coração de mar. Como ela, somos livres, somos livres de voar..."
Letra e música de Ermelinda Duarte


quarta-feira, 29 de abril de 2009

Poetas resistentes



" Entre o final da década de 30 e as vésperas do 25 de Abril, foi-se definindo, em Portugal, uma tradição de poesia de resistência, de oposição à ditadura, para a qual contribuíram poetas oriundos de diferentes quadrantes, embora com relevo para aqueles que inscreviam entre as preocupações maiores da sua poética o empenhamento cívico e social. «De uma forma mais velada ou mais aberta, a lírica resistente afirmava-se enquanto poesia combativa, de denúncia da iniquidade do regime, do seu aparelho repressivo, pondo sempre em primeiro plano o seu empenho pela liberdade de que se via privada. A sua voz foi, durante décadas, lamento, protesto, acusação, imprecação, ora animada pela esperança , ou abatida pelo desânimo».

Poetas e resistentes, Jaime Cortesão, Miguel Torga, Casais Monteiro, Borges Coelho e Veiga Leitão conheceram as prisões do Estado Novo. Sophia de Melo Breyner, Natália Correia, Fiama Hasse Pais Brandão, Fernando Assis Pacheco, Manuel Alegre, dedicaram parte importante da sua obra a este tema. Alguns, para além da notoriedade literária, acabaram por atingir o maior audiência se tornar populares conhecidos devido a um outro fenómeno que começa a ganhar na década de sessenta: a canção de intervenção. Adriano Correia de Oliveira, José Afonso e muitos outros, musicaram poemas dos grandes autores da poesia de resistência
. "


in: Revista de Letras e Culturas Lusófonas

terça-feira, 28 de abril de 2009

Para pensar...







Livre






Não há machado que corte

a raiz ao pensamento

Não há morte para o vento

não há morte



Se ao morrer o coração

Morresse a luz que lhe é querida

sem razão seria a vida

sem razão



Nada apaga a luz que vive

num amor num pensamento

Porque é livre como o vento

porque é livre



Carlos Oliveira

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A não esquecer...


"O segredo da felicidade está na liberdade; o segredo da liberdade está na coragem."
(Péricles)

sábado, 25 de abril de 2009

Uma aula com sabor a LIBERDADE


Hoje, comemora-se 35 anos que aconteceu a revolução dos cravos. Foi há 35 anos que o povo saiu à rua para festejar a festa da democracia e o fim da ditadura. Claro que me é impossível passar ao lado deste acontecimento e não planificar algo de diferente para os meus alunos. Assim fiz. Ontem, todos em conjunto, prepámos uma aula deliciosa. Eu levei para os meus alunos o livro de José Jorge Letria ( " O 25 de Abril contado às Crianças...e aos outros") e brindei-os com a leitura de passagens do mesmo. Ouvimos canções de Abril que ainda hoje motivam quem as ouve e os alunos leram poemas, textos em prosa ou testemunhos reais do 25 de Abril de 1974. A revista " Visão" desta semana complementou todos os relatos, dando uma ideia do que os censores com o seu lápis azul, faziam às notícias que não eram favoráveis à " verdade" oficial do regime .

No final das aulas senti um orgulho imenso de poder contribuir para que esta data não seja apenas mais um dia que se assinala no calendário.


«Se um dia tiveres tempo e paciência, conta esta história aos teus amigos e mais tarde, aos teus filhos e aos teus netos. Será a melhor homenagem que podes prestar a todos quantos o fizeram e que, mesmo sem darem conta disso, estavam, afinal, a pensar em ti, ou seja, no futuro de Portugal. Quando te lembrares deles, pega num cravo, põe-no num copo de água, no parapeito da janela, e verás que até o Sol se há-de rir para ti, como se dissesse: " Com flores assim, mesmo que não tenham cheiro, a alegia há-de valer sempre a pena, porque tem sabor a liberdade" E o cravo só murchará quando não respeitares a liberdade que ele representa.

Se um dia te esqueceres de tudo quanto te contei, lembra-te, pelo menos, de que Abril é todos os dias, desde que tu o queiras. Essa é a melhor homenagem que poderás prestar a quem o fez. Se Abril fosse um verbo, a única maneira de o conjugar teria de ser no futuro.»


José Jorge Letria, O 25 DE ABRIL CONTADO ÁS CRIANÇAS E AOS OUTROS
25 de Abril
L iberdade
I gualdade
B ondade
E nergia
R evolução
D ireitos
A legria
D esenvolvimento
E ncontro de todos!
Diana Rodrigues, 8º A
TROVA DO VENTO QUE PASSA

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu paíse
o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio — é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignoradae
fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Manuel Alegre